terça-feira, 4 de agosto de 2009

A mudança no clima traz tranqüilidade?

Seis horas da manhã de segunda-feira. Maria acorda e começa a fazer o café da manhã para seus filhos. De camisola em frente da geladeira, procura o leite, o pão e a manteiga. Maria que, nessa época do ano, estava acostumada a acordar sentindo muito frio, estranhou quando olhou para fora e percebeu que o céu estava maravilhoso. Os raios do sol entravam por entre sua janela e traziam luz para a mesa da cozinha. Com o café pronto, Maria vai até o quarto das crianças e as acorda.
- Crianças, levantem está na hora. O sol voltou a brilhar!
Sentada à mesa e observando seus filhos, Maria imagina que se inicia uma nova vida, que realmente a escuridão passou.
As crianças saem da mesa e vão em direção a porta.
- Tchau mamãe, até mais tarde!
- Tchau meus filhos, boa aula para vocês.
Como fazia todas as manhãs, Maria vai até o pequeno quintal de sua casa, onde ainda existem alguns móveis estragados encostados na parede. Em seguida, sua comadre e vizinha, Rita, aparece na janela da casa ao lado.
- Comadre, eu acho que ele está atrasado. Há quase um mês que espero por ele e até agora nada. O que teria acontecido?
- A última vez que apareceu foi no ano passado, mas acho que sua passagem foi rápida. Agora com essa demora toda, estou sentindo falta dele. Hoje mesmo comadre, alguém me perguntou o motivo de tanto atraso.
- Ah! Comadre acho que não temos acompanhado as previsões. Acho que ele já chegou faz tempo, mas ninguém percebeu. O problema é que ele está mudado, e agora quem diria, o Outono é quente!
Maria e Rita são apenas duas, de milhares de pessoas que sofreram com a catástrofe ocorrida em Santa Catarina em Novembro do ano passado. Enquanto a população tenta fazer com que a vida volte ao normal, a economia do estado ainda calcula os prejuízos causados por perdas de estoques e o fechamento de comércios.
A Prefeitura de Balneário Camboriú afirma que a situação foi restabelecida em poucas semanas, e que o número de visitantes foi maior, assim não houve queda em relação a janeiro, que historicamente é o melhor mês de turismo do ano. De acordo com a Assessora de Imprensa da Secretaria de Turismo, Silvia C. Bomm, “houve uma queda no turismo, sim, mas o que acontece, em minha opinião – como experiência que tenho em jornalismo e agora na Secretaria de Turismo como assessora de imprensa – é um receio. As pessoas querem aproveitar tudo o que Balneário Camboriú tem de bom, e acreditaram que as cheias teriam diminuído este “roll” de benefícios”.
Assim que a nova administração da Prefeitura assumiu o mandato, foi emitido um Comunicado Oficial, ratificando o omitido pela Diretoria anterior. Silvia explica que no documento continha a explicação de toda a situação da cidade, como acesso e situação das praias. A Prefeitura também encaminhou releases que expunham as belezas da cidade que sequer haviam sido afetadas pelas cheias. Também foram feitos vários projetos, onde foram trazidos jornalistas para conhecer a cidade e comprovar o que os releases afirmavam. E para este ano, a Prefeitura estará reforçando projetos no exterior, como a nova diretoria criada: Marketing e Eventos para o Mercosul.
O clima em Balneário Camboriú sempre gerou preocupação. Silvia diz ainda que não se pode negar que houve uma queda no número de visitantes, após o acontecido em Novembro do ano passado. “Tivemos uma redução de 23,6% de turistas em janeiro deste ano, comparando-se a janeiro de 2008. Em compensação, não houve queda em fevereiro, e sim acréscimo, mostrando que conseguimos manter o número de turistas de janeiro para fevereiro. Vale lembrar que nos anos anteriores, a queda de janeiro para fevereiro fica em média de 250 mil turistas. Este ano, os 518.742 turistas de janeiro foram substituídos por 518.906 em fevereiro, ou seja, acréscimo inédito de 0,03%”.
Buscando amenizar cada vez mais as conseqüências trazidas pelas chuvas, a Prefeitura de Balneário Camboriú investirá em equipamentos, pessoas capacitadas, mas também trabalhará diretamente com a Secretaria de Obras, realizando a desobstrução de córregos, canais e bueiros. “Ainda não existe 100% de conscientização das pessoas, e muitas ainda jogam lixo, restos de mobília e entulhos em valas e terrenos baldios. Há de se complementar, que o trade não fica totalmente inviabilizado quando acontecem cheias nas ruas da cidade – e elas acontecem, porque estamos no nível do mar (apenas um metro acima) e se há muitas chuvas, a tendência é de o escoamento ser dificultado”, comenta Silvia.
Ao passar de cada ano, em diferentes regiões do mundo, as características do clima não se apresentam da mesma forma. Com a chegada do Outono, os fenômenos típicos que ocorrem nessa estação também preocupam os catarinenses. Para Edson da Silva, 65 anos, aposentado, o outono parece lhe reservar surpresas. “Nunca se sabe o que poderá acontecer em Santa Catarina, e muito menos em Balneário Camboriú, qualquer “chuvinha” já é motivo de caos”, completa Edson.
A nova estação é caracterizada por geadas, formação de nevoeiros devido a temperaturas baixas no amanhecer, presença de ciclones extras tropicais que provocam ventos fortes e mar agitado resultando às vezes em ressaca e também diminuição dos volumes de chuva em relação ao verão.
Para o professor e responsável pelo Laboratório de Climatologia da Univali, Sergey Alex de Araújo, o estado está em influência do La Niña mais fraco. “De modo geral o La Niña para a região sul traz chuvas mal distribuídas e em menor quantidade. Acredito que para o litoral devemos ficar dentro da média histórica em quantidade, só que de maneira mal distribuída. Significa que poderemos ter períodos mais longos sem precipitação e curtos períodos com precipitação concentrada”.
Para Ronaldo Coutinho, Metereologista, o clima não está desastroso, apenas está seguindo seu ciclo natural. “Virou moda culpar o aquecimento global. O fato de termos eventuais episódios de chuva forte ou outros extremos fazem parte do nosso clima, estamos numa área de transição, onde há choque constante entre ar quente e ar frio”. Coutinho ainda comenta que a população triplicou nas últimas três décadas, e que hoje a chance de ser atingido por um tornado, granizo forte e enchente é bem maior, “entre 1800/1900 o clima foi muito mais “louco” que o atual, e aí? Era aquecimento global também?”.
Qualquer época é sujeita a desastres naturais, mas são mais comuns na saída do inverno para a primavera. “Soluções existem faz tempo, apenas falta vontade política e aplicação da legislação existente. O primeiro que fizer, não será reeleito, mas fará seu dever. Não é o clima que está desastroso, e sim o ser humano, com sua arrogância, que é desastroso”, completa o Metereologista.
Para o Editor do Jornal Página 3 de Balneário Camboriú, Waldemar Cezar Neto, não está ocorrendo nada de extraordinário com o clima na nossa região, pois grandes enxurradas ocorreram regularmente nos finais da Primavera, ao longo dos anos. Isto pode ser conferido pelos registros históricos de Blumenau, Brusque, médio vale em geral. “O que parece é que a cada vez essas enxurradas produzem efeitos mais nefastos pela desordem na ocupação do solo urbano, margens de rios, desmatamento de morros, etc. Veja que mortes por enchente em novembro foram poucas, a maioria decorreu de deslizamentos. No verão também é comum chuvas fortes no final de tarde e, em março, tem até música para registrar o fenômeno que normalmente afeta mais o Sudeste do que o Sul do País” complementa Waldemar.
Para o Jornal a cobertura do clima é feita regularmente porque é um serviço de utilidade pública, e as pessoas estão acostumadas a receber essas informações de todos os veículos. Dona Maria João de Andrade, 35 anos, comerciante, confirma isso. “Sempre que fico sabendo de alguma tragédia na região, corro comprar um jornal ou procuro uma televisão. Prefiro saber logo a verdade a esperar que a tragédia bata na minha porta”, completa a comerciante. Waldemar cita a Televisão como o meio que dá bastante destaque às previsões meteorológicas. O Jornal Página 3 obtém seus dados através da Epagri-Ciram, que tem um excelente serviço de previsão. “Usamos quase que diariamente essas previsões no nosso noticiário on-line. Ultimamente passamos a informar também as condições para a navegação, devido ao crescimento da náutica de lazer na região de Balneário Camboriú”, diz o editor.
Waldemar diz que foram feitas várias queixas na área de turismo na cidade, e que o noticiário teria sido exagerado por parte dos meios de comunicação, especialmente a Televisão. Mas completa que não foi exagero, pois o estado viveu uma catástrofe, mais de uma centena de mortos. “Precisamos mostrar a realidade para nossos leitores, telespectadores, etc., achei a cobertura correta”.
Não é apenas na nossa região que as enchentes estão causando desastres. As grandes metrópoles contribuem com o aquecimento global, mas também serão uma das vítimas preferenciais desse aquecimento. Regiões metropolitanas ficarão mais sujeitas as inundações, enchentes e desmoronamentos em áreas de risco. Quase um terço da população brasileira vive em apenas 11 regiões metropolitanas, e parcela significativa reside em favelas e áreas degradadas.
Os cálculos do governo federal indicam que o crescimento populacional ocorrerá principalmente nas áreas urbanas, superando 200 milhões de habitantes em 2020. .Em São Paulo, por exemplo, o número de pessoas desabrigadas é imenso. Poderia se pensar que a situação do estado afeta diretamente as enchentes em Santa Catarina, mas para Waldemar, as enchentes de São Paulo não afetam em nada no Estado e são tão normais quanto um dia de sol no Ceará.
A humanidade está em uma encruzilhada. Ou adota padrões sustentáveis de produção e consumo, ou o planeta entrará em colapso. Os esforços adotados até o momento ainda são tímidos. Se as emissões dos gases estufa se estabilizarem, a temperatura média mundial continuará aumentando durante centenas de anos a alguns décimos de graus por século.

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