terça-feira, 4 de agosto de 2009

Crônica!

"Adeus minhas meninas"

Quanto tempo você gasta para ficar bonita? Maquiagens importadas. R$100 reais em uma tarde num SPA. Horas de drenagem linfática realmente te fazem feliz? Ou tudo se resolveria com apenas uma cirurgia plástica? Para muitas pessoas isso parece muito pouco, mas para outras, isso é um verdadeiro pesadelo.

Ana Maria – ou Ana para os mais íntimos - estudante de faculdade é uma garota comum, mas com um dia-a-dia nem tão comum assim. Na hora de acordar já sente uma dor enorme no seu corpo todo. Levanta e escova os dentes. Vai até o armário e procura algo confortável para vestir. Procura, vasculha, mas percebe que exatamente aquele, não era seu dia. Ela se da conta que boa parte de suas roupas estão na lavanderia. Apenas ele, sim, ele, a peça mais odiada em todo o seu guarda-roupa está disponível e bem visível. Uma blusa frente única preta que ganhou de sua mãe quando ainda era tamanho G. Mas, sem outra escolha a garota veste a blusa e sai correndo, pois percebe que está atrasada.

No ônibus já sente um enorme desconforto, parece que seu pescoço vai sair do lugar ou vai cair, ali mesmo, embaixo de seus pés. Ela mexe, remexe, puxa daqui, puxa dali, mas nada, nada que ela possa fazer irá diminuir seu sofrimento. Ela observa as meninas no ônibus, usando blusas que ela sabe que nunca irá usar, e imagina como sua vida seria mais fácil se seu “molde original” tivesse sido feito com mais carinho e com menos volume. Ana percebe que é uma das poucas mulheres que em vez de aderir ao implante de silicone, quer se ver livres das “meninas” - como ela chama em seu mundo particular – seus seios. Mas a garota sabe que carregar “aquele peso” todo em sua vida seria seu destino e não imaginava nada que ela pudesse fazer para mudar aquela situação.

Ao fechar os olhos não imagina mais nada, além de um futuro trágico. Mas eis que surge uma solução. Ao andar do ponto de ônibus até a faculdade, ela observa uma placa gigante – Clínica de Estética – Resolvemos o seu problema já - E se pergunta como nunca tinha visto essa maravilha antes. Entrou, marcou uma consulta para as 14h do outro dia e foi para a faculdade. Seus pensamentos já não eram mais tão tristes, e sim confiantes. Um sonho realizado.

Na hora marcada a garota chega à clínica. Senta na sala de espera e pega uma revista. A moça da recepção percebe que Ana está nervosa e lhe oferece um chá. Pergunta se era sua primeira consulta em uma clínica de estética e a garota responde que sim. Ana Maria estava realmente com os nervos a flor da pele. De repente ela ouve alguém chamando seu nome. Era o médico, exatamente as 14hr, como marcado. Ela entra, senta e fica observando enquanto o médico se dirige até sua mesa. A consulta é normal como qualquer outra, o médico lhe pede alguns exames de rotina e marca a cirurgia.

Na escolha da data, Ana já não sabia se chorava de nervoso ou se ria de felicidade. Ainda com muito medo, a garota pede se a cirurgia não poderia ser marcada para daqui á um mês, até ela se acostumar com a idéia e se despedir das “meninas” com mais cuidado. Afinal, elas foram suas companheiras por anos, e Ana não gostava de despedidas. Para o médico tudo bem, a escolha da data era preferência do cliente e a cirurgia foi marcada para o próximo mês, Julho, no dia 13, dia de seu aniversário.

Ana sai do consultório mais calma e se dirige até o ponto de ônibus. Em seus pensamentos já não estão coisas do tipo “futuro trágico”, mas sim, o recomeço de uma nova fase em sua vida. Passadas duas semanas, Ana está ainda mais inquieta e preocupada do que antes. O nervosismo, insistente não a deixava em paz. Começou a assistir programas de cirurgia plástica com mais atenção e se imaginava ali. Deitada semi-nua em uma cama, sendo cortada e costurada. O medo da anestesia. De agulha. De bisturi. Aquilo tudo parecia um pesadelo.

Começou a imaginar como existem mulheres que não se contentam com uma, e fazem duas, três, quatro cirurgias. Ou a sensação vai ser a pior possível, ou se tornará um vício. Mas de vícios Ana Maria já estava cheia. Vício de dormir até tarde. Vício de coca-cola. Vício de seriados... E definitivamente, vícios de cirurgia plástica não estavam em seus planos.

Faltando apenas um dia para o “grande dia”, Ana sai às compras para os dias que passará na clínica. Uma camisola nova era sua principal meta. Mas como comprar roupas se ela não sabe o tamanho que vai usar? Grande dúvida. Sai da loja com um camisetão e um par de pantufas. Para ela já bastava.

A noite que antecede a cirurgia prometia ser assustadora. Pesadelos rondavam seu sono. Imaginava as piores coisas, mas sabia que aquilo era para o seu bem e não tinha mais como voltar atrás.

A manhã do dia 13 de julho começou tranqüila. Ana Maria acorda, vai até o espelho e se despede das “meninas”, arruma sua mochila e vai para a clínica. Não havia mais unhas em seus dedos. Nervosismo era pouco, e ataques de choro eram constantes. Ela chega na hora marcada, é encaminhada até a sala de cirurgia e espera imóvel. Três médicos chegam, cumprimentam Ana Maria e tentam acalma-la. O anestesista injeta o medicamento que a fará dormir por horas. Aos poucos a garota vai sentindo um sono profundo, e lentamente fecha seus olhos. É o começo da cirurgia.

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