Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.
Texto: Carlos Drummond de Andrade
Conheci John em 1966, durante minha exposição artística
Nos anos de
A manhã de oito de dezembro de 1980 foi bastante tumultuada. Em meio a entrevistas e fotografias, John decidiu ligar para sua tia Mimi, com quem passou sua infância e o criou, comunicando a ela, que estaria de volta a Inglaterra em 1981. Por voltas das cinco horas da tarde, John e eu saíamos do Dakota para o estúdio, onde vários fãs o esperavam na porta. Um deles se aproximou e pediu um autógrafo. Um fotógrafo que estava ali fotografou a cena e o fã foi identificado como Mark David Chapman.
Ficamos no estúdio até as 10 horas da noite. Despedimos-nos e iríamos sair para jantar, mas John resolveu ir para casa. Retornamos ao Dakota, e como de costume a limusine nos deixava na portaria do prédio. John seguiu na minha frente, em direção a entrada quando de repente, aquele mesmo rapaz do autógrafo se dirigiu a ele e gritando: “Sr. Lennon! Sr. Lennon!”. Logo senti uma tontura, uma coisa estranha dentro de mim.
Quando meu marido vira-se para ver quem estava o chamando, é surpreendido com quatro tiros, e caí ali mesmo. John continua a se contorcer pedindo por ajuda. Eu não conseguia raciocinar e continuei paralisada. O porteiro e mais algumas pessoas que estavam ali também não entendiam o porquê daquilo. Quando voltei a si, me pus a gritar por socorro enquanto o porteiro acionava o alarme.
Com toda a força que ainda me restava, me aproximei do assassino: “Você sabe o que fez?”. Ele, olhando nos meus olhos friamente respondeu “Atirei em seu marido. Atirei
Quando o assassino acabou suas palavras, a vontade que eu tinha era de matá-lo, assim como ele fez com meu marido, meu John. Mas no mesmo instante a polícia aproximou-se dando voz de prisão ao porteiro. Eu, ainda desesperada e completamente desamparada, avisei aos mesmos que o verdadeiro assassino do meu marido estava na minha frente, sem sequer mostrar em seus olhos arrependimento. A polícia se aproxima e Mark Chapman, de 25 anos, se entrega imediatamente.
Temendo a demora pela ambulância, sugeri que os policiais pegassem John e o levassem rapidamente ao hospital. O policial Paul recolhe meu marido e o coloca no banco traseiro da viatura e saem as pessas para o St. Luke Roosevelt Hospital. Durante o trajeto, Paul em busca de manter John consciente, conversa com ele á caminho do hospital. E o policial foi à única pessoa a ouvir as últimas palavras de meu marido: “sinto dor!”.
Quando chegou ao hospital John foi atendido por uma enorme equipe de médicos, e encaminhado até a emergência. Eu cheguei logo depois ainda em estado de choque. E em minutos a imprensa já estava toda posicionada, com câmeras, microfones, filmadoras... “Mas o que vocês querem afinal? Noticiar para todo o mundo a trágica morte de um ser humano que buscava a paz para vocês?”, indaguei aterrorizada pela falta de educação de alguns repórteres.
Exatamente às onze e cinco da noite do dia oito de dezembro de 1980,
Um jornal que circulava com manchetes do desastre, caracterizava o assassino Mark D. Chapman, como um rapaz fanático pelos Beatles e que saíra do Hawaí com apenas uma coisa em mente, matar John Lennon. Especialistas vieram ate mim, dizendo que ele sofria de distúrbios mentais, mas que isso não iria impedir Chapman á condenação de prisão perpétua.
Na última terça-feira, o Teatro Adelaide Konder, na Universidade do Vale do Itajaí – Univali - foi palco da abertura da Semana da Comunicação. O CAICOM, junto com os alunos, organizou o evento que há anos não era realizado na Universidade.
A abertura ocorreu às 7h, e contou com a presença dos alunos da Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, Publicidade e Propaganda e Relações Públicas, além de professores dos cursos e demais acadêmicos da Univali.
Em seu discurso, Ricardo Aoki, presidente do CAICOM, explicou a importância da Semana da Comunicação para os acadêmicos e lembrou também que o curso de Comunicação Social - Jornalismo, na Univali é o maior do Estado de Santa Catarina. Ricardo parabenizou a colaboração dos acadêmicos, que trabalharam junto com o CAICOM para a realização do evento, “essa noite é o resultado de vários meses de árduo trabalho”, disse o acadêmico.
Durante a Semana da Comunicação, haverá mostra de filmes, mini-cursos e palestras que acontecem na quarta e quinta-feira, pelo período da manhã e pelo período da noite.
A palestra que abriu oficialmente a Semana da Comunicação na Univali, discutiu a Ética na Comunicação Social. O jornalista e professor da UFSC, Dr. Francisco José Castilhos Karan, parabenizou o CAICOM pela organização do evento. Após o término da palestra, ocorreu um debate e juntamente com Karan, o professor de Comunicação da Univali, Dr. Rogério Cristofoletti responderam as perguntas dos acadêmicos.
A semana da Comunicação começou na segunda-feira (29) e vai até o dia 03 de outubro.
Já a parte chata é bem mais curta, simples, direta e realmente muito chata: não poder delegar coisas. Como eu queria berrar “agora é a sua vez de descer para pegar a pizza”. Ou pedir um copo com água depois que já estou quentinha embaixo das cobertas.
Queria também, muito, ter para quem delegar funções nada femininas como arrumar o varal que despencou, trocar a pilha do aquecedor de água (que já me estragou o esmalte umas duzentas vezes), subir com o galão de água pelas escadas no dia que o elevador pifou, receber os tios “cara de que nunca viram mulher” da instalação do fogão. Essas coisas.
Mas não tem. Simplesmente não tem quem chamar. Quando acaba a luz, lá vou eu no escuro e morrendo de medo achar uma vela. Quando as compras estão muito pesadas eu tenho que escolher entre carregar as compras ou carregar as compras, acabo adquirindo uma força que nem eu sabia que tinha. Quando a vizinha resolve escutar Bossa Nova remixada (tem coisa mais brega?) bêbada, às 3 da manhã, e ligar para o namorado e berrar pela trigésima vez “você estragou tuuuuuuuudo” também sou eu, sozinha, que bato na casa do zelador pra dizer que ela vive estragando meu sono, que é tuuuuuuuudo pra mim. Tem horas que eu pagaria feliz o dobro do meu aluguel só pra ter alguém que fizesse tudo isso por mim. Mas acho que ninguém gostaria de fazer um estágio de mãe na minha casa. Ou gostaria?
Hoje faz exatamente um ano que saí da casa dos meus pais, onde eu tinha todo o conforto, espaço e paparicações do mundo, e me mudei para meu ap de 55 metros quadrados com vizinhos loucos que martelam durante a manhã e escutam bate estaca durante a noite, chuveiro que esquenta-esfria e eletroeletrônicos que apitam, estralam, dão choque e até andam sozinhos.
Mas olhando para a minha casinha com todas as coisas que eu mais adoro no mundo (músicas, livros, filmes, pôsteres, revistas, cremes, roupas, silêncios, velas, objetos que trouxe de viagens, fotos...) eu penso que carregar sozinha o peso das compras e da vida valem muito a pena. Acho que acabei ganhando alguns músculos necessários para ser uma mulher de verdade. Aqueles que ninguém ganha na academia da moda.
Sempre me perguntei pra que se vive, afinal. Quando eu era criança achava que eu vivia porque assim meus pais queriam. Me colocaram no mundo, me deram de comer, me compraram arquinhos de cabelo que combinavam com o vestidinho. Me entucharam de brinquedos e de alertas. O mínimo que eu podia fazer por eles era seguir respirando, acordando, passando fio dental, indo ao banheiro pelo menos depois de comer ameixa.
Depois, quando eu era adolescente, achei que a gente vivia para gostar de alguém. Se tivesse ao menos um garoto bonitinho na escola, valia a pena acordar cedo. Se tivesse ao menos um garoto bonitinho no inglês, valia a pena abrir mão da sonequinha da tarde. Se tivesse ao menos um garoto bonitinho irmão de uma amiga, valia a pena encher o saco da minha mãe para dormir na casa da amiga. Só podia ser isso! Ou se vive pra estudar matemática? Geografia? Comer legumes? Não podia ser. A única coisa que podia ser, era viver pra sentir o coração disparar por qualquer garotinho bonitinho. De preferência um que tivesse sardinhas no rosto ou furinho no queixo.
No final da adolescência, eu comecei a achar que se vivia pra ser alguém. Entrar na faculdade. Arrumar um emprego. Ser alguém. Fiz tudo isso. Entrei na faculdade. Arrumei 456 empregos os quais larguei 456 vezes. E nesse tempo todo fui vários “alguém” e nenhum alguém 456 vezes. Porque ser alguém não tem nada a ver com essa vontade desesperada de ser alguém. E continuei sem saber afinal para o que se vive. Porque a faculdade e o deslumbre com os primeiros dias de trabalho são espaços curtos demais para uma vida inteira. Não se vive exclusivamente pra isso. Não se vive pra pegar trânsito, ter um chefe que tira uma vírgula sua e coloca em outro lugar só pra mostrar que é seu chefe. Não se vive pra bater cartão e pagar self-service com Visa Vale. Definitivamente não se vive pra isso. E lá ia eu pedir demissão pra tentar descobrir pra que se vive. Será que para salvar as criancinhas, o planeta, os animaizinhos, os aposentados, as árvores, as praias, as formigas? Não, não se vive pra mudar o mundo, o bairro, meu quarto. Porque a gente não muda nem o jeito de escovar os dentes. Essa é a verdade.
Daí achei que vivemos para fazer o que gostamos e ponto final. Como se fosse uma missão para a qual Deus nos enviou. E a minha era escrever, escrever, escrever. Programas de TV, colunas em revistas, novelas, livros, filmes. Tudo. Eu vivia para ter sucesso nisso. E então vim trabalhar em casa e mergulhei nisso da maneira desajeitada de sempre. Mas descobri que comer a Gisele Bundchen numa ilha deserta é o mesmo que punheta. Que graça tem lançar um livro se você não tem amigos pra ligar e falar “porra, cara, vou lançar um livro!”. Nenhuma.
Aí achei então que se vive para as pessoas. Se você tem dez pessoas de quem gosta muito, taí um motivo para se viver. E eu gostava mais ou menos disso: de dez pessoas. E vivia para isso. Para no final do dia tomar um vinho com uma dessas pessoas e brindar o mistério que é não saber pra que se vive. E eu e minhas dez pessoas viveríamos bem até os últimos dias...Mas não é bem assim que funciona, vocês sabem. As pessoas casam, mudam de pais, resolvem ficar chatas, resolvem te achar chata, resolvem não beber mais vinho. Infelizmente não se vive para as pessoas. E quanto mais os anos passam mais você descobre que as mil pessoas maravilhosas viram cem que viram dez que viram duas. E essas duas são insuportáveis, mas são as que sobraram. E você intercala as duas pra não se irritar em dobro.
Ahhh tudo é tão chato, não é mesmo? Foi então que descobri que talvez se viva para dormir. Comprei uma cama gostosa, colchão bom, enchi de almofadas, colei borboletas na parede. Minha casa não tem telefone. Dormir, dormir, dormir. Para nunca mais pensar pra que se vive. E quem disse que dá certo? Eu sonhava toda noite que percorria o mundo atrás da mesma pergunta. E sonhava com velhos sábios, meus coleguinhas do primário, minha professora de yoga, meu 456 ex namorados (definitivamente não se vive para nenhum deles, até porque se você faz isso, eles saem correndo rapidinho), meu avô, um rato morto, um assaltante, a novela das oito, sei lá. Eu percorria o mundo atrás da resposta. E acordava cansada e com mais sono. Esse negocio de dormir não resolve o problema de ninguém.
Aí um dia, depois de uma dessas noites de correr o cérebro, acordei com uma idéia fixa: nascemos pra gerar vida! Sim, eu precisava ser mãe. E fiquei obcecada pela idéia. Eu, um ser com a conta vermelha, sem papel higiênico e sem namorado, louca pra ser mãe. Mas não foi isso que minha mãe fez comigo? Achou que a razão da sua vida era ser mãe...bom, ela não é das pessoas mais felizes do mundo e eu não sou das pessoas mais bem resolvidas do mundo por ser o centro da vida dela. Não, não se vive para ser mãe. É lindo ser mãe, mas não pode ser a única coisa da vida de um ser.
E segui procurando. Talvez a gente viva pra conhecer o mundo, pra andar numa motoquinha em Paris, pra ouvir todas as músicas lindas, pra ler todos os livros bons, pra fazer sexo com amor, pra sair dando pra meio mundo, pra pagar os pecados, pra dançar, pra quebrar o pau com todo mundo, pra ser superficial ou leve e adorar todo mundo como se fosse possível viver em paz aceitando todos e sendo aceita. Pra malhar a bunda, pra chorar num concerto no Teatro Municipal, pra comer um doce, pra ver o Wagner Moura com aquela cara de macho, pra assistir “Love in the Afternoon” do Billy Wilder, pra levar a Lolita no dentista de cachorros, pra olhar ele pela última vez que nunca é a última vez e chorar pela última vez que nunca é a última vez. Tudo isso? Nada disso? E segui procurando.
Então pra que? Pra quem? Por que? Por que acordo todos os dias? Se eu sinto prazer em escrever é para que alguém leia. Alguém que certamente vai me magoar um dia. E vai embora. Se eu ganho dinheiro é para comprar coisas que um dia vão acabar. Se eu rezo é para ter uma paz que daqui a pouco vai embora. Tudo vai embora. Todos vão embora. Se tudo acaba, então, meu Deus, pra que se vive? Pra que?
E nessa de tanto perguntar, não é que descobri! Eu acho, de verdade, do fundo da minha alma, que se vive única e exclusivamente para se viver.
( Tati Bernardi )
Uma notinha instigante na Zero Hora de 30/09: foi realizado em Madri o Primeiro Congresso Internacional da Felicidade, e a conclusão dos congressistas foi que a felicidade só é alcançada depois dos 35 anos. Quem participou desse encontro? Psicólogos, sociólogos, artistas de circo? Não sei. Mas gostei do resultado.
A maioria das pessoas, quando são questionadas sobre o assunto, dizem: "Não existe felicidade, existem apenas momentos felizes". É o que eu pensava quando habitava a caverna dos 17 anos, para onde não voltaria nem puxada pelos cabelos. Era angústia, solidão, impasses e incertezas pra tudo quanto era lado, minimizados por um garden party de vez em quando, um campeonato de tênis, um feriadão em Garopaba. Os tais momentos felizes.
Adolescente é buzinado dia e noite: tem que estudar para o vestibular, aprender inglês, usar camisinha, dizer não às drogas, não beber quando dirigir, dar satisfação aos pais, ler livros que não quer e administrar dezenas de paixões fulminantes e rompimentos. Não tem grana para ter o próprio canto, costuma deprimir-se de segunda a sexta e só se diverte aos sábados, em locais onde sempre tem fila. É o apocalipse. Felicidade, onde está você? Aqui, na casa dos 30 e sua vizinhança.
Está certo que surgem umas ruguinhas, umas mechas brancas e a barriga salienta-se, mas é um preço justo para o que se ganha em troca. Pense bem: depois dos 30, você paga do próprio bolso o que come e o que veste. Vira-se no inglês, no francês, no italiano e no iídiche, e ai de quem rir do seu sotaque. Não tenta mais o suicídio quando um amor não dá certo, enjoou do cheiro da maconha, apaixonou-se por literatura, trocou sua mochila por uma Samsonite e não precisa da autorização de ninguém para assistir ao canal da Playboy. Talvez não tenha se tornado o bam-bam-bam que sonhou um dia, mas reconhece o rosto que vê no espelho, sabe de quem se trata e simpatiza com o cara.
Depois que cumprimos as missões impostas no berço — ter uma profissão, casar e procriar — passamos a ser livres, a escrever nossa própria história, a valorizar nossas qualidades e ter um certo carinho por nossos defeitos. Somos os titulares de nossas decisões. A juventude faz bem para a pele, mas nunca salvou ninguém de ser careta. A maturidade, sim, permite uma certa loucura. Depois dos 35, conforme descobriram os participantes daquele congresso curioso, estamos mais aptos a dizer que infelicidade não existe, o que existe são momentos infelizes. Sai bem mais em conta.
Outubro de 1998